quinta-feira, 28 de julho de 2011

MITO 1: Quimioterapia faz mais mal ao paciente do que a própria doença.










MITO 1: Quimioterapia faz mais mal ao paciente do que a própria doença.


De um modo geral, a quimioterapia é um tratamento que apresenta efeitos adversos. Essa toxicidade pode variar de leve a grave, estando relacionada às drogas e esquemas utilizados, a uma susceptibilidade individual, comorbidades e o comprometimento da condição do paciente pelo câncer.

Dois príncipios éticos norteiam a Medicina, o da beneficência e o da não-maleficência, que significam que  o médico deve sempre considerar beneficiar o paciente e acima de tudo não causar mal ou dano.

Assim, nenhum tratamento é aprovado pelos órgãos reguladores ou prescrito pelo médico sem ter comprovação de benefício para o paciente. Em uma escala crescente de importância  esse benefício pode se dar da seguinte maneira

1) Alívio dos sintomas e melhora da qualida de vida: o tratamento minimiza os sintomas da doença apesar dos efeitos colaterais. Ou seja, pacientes em quimioterapia sentem-se melhor do que os sem tratamento
2) Aumento do tempo livre sem doença: o tratamento é capaz de prolongar o tempo em que o paciente fica em remissão. Ficar em remissão significa estar sem evidência de doença e mais importante, sem os sintomas que ela pode apresentar.
3) Aumento da sobrevida global: a quimioterapia é capaz de aumentar a sobrevida, assim pacientes que estão em tratamento vivem mais do que os não estam recebendo quimioterapia.
4) Cura: Alvo que pesquisadores, médicos e pacientes almejam, mas que ainda não é uma realidade para muitos casos.

Então, por que existe essa crença em relação a quimioterapia?
A utilização da quimioterapia como tratamento é recente na história da Medicina. O primeiro quimioterápico foi descoberto durante a segunda guerra mundial, após a observação de que soldados expostos às bombas de gás mostarda apresentavam uma interrupção da divisão celular das suas células somáticas. Como consequência, evidenciou-se que ele era capaz de também de interromper a divisão das células tumorais. Bom, digamos que é péssimo para a reputação de uma classe de remédios saber que na sua origem eram empregados como uma bomba.
Por ser uma especialidade nova, a maioria das faculdades médicas não tem no currículo uma disciplina de oncologia. A condução do paciente com câncer é encaminhada para serviços fora da instituição e acaba sendo ensinada por médicos não especialistas no assunto. Isso acarreta um desconhecimento da especialidade e da terapêutica pela maioria dos médicos. O desconhecido sempre sofre uma resistência natural.
A generalização por parte do público leigo é uma causa importante: ‘‘Ah, seu X teve câncer e a quimioterapia só causou sofirmento.’’ Cada paciente é um paciente e os resultados do tratamento e a evolução clínica são particulares. É inconcebível tratar dezenas de tumores diferentes e em inúmeros estágios de apresentação (de forma simples: inicial, avançado e metastático) como uma única doença. Às vezes, pacientes com mesmo diagnóstico, o mesmo tipo de tumor e o mesmo estágio da doença tem evoluções completamente distintas, quiçá doenças distintas. Aquelas conversas da sala de espera do consultório médico ou a experiência da comadre quase sempre atrapalham mais do que ajudam.
E logicamente, por ser um tratamento em que o benefício nem sempre é a cura e com efeitos adversos, vide acima, a fama também não é a das melhores. Mas, é como eu falo para os meus pacientes em que a cura não é um objetivo, diabetes tem cura? Pressão alta tem cura? Não, são doenças crônicas em que o objetivo do tratamento é o controle, e a cada dia que passa, graças as novas drogas que estão sendo descobertas o câncer vem se tornando também uma doença crônica.